INICIANDO NO HIKING / TREKKING – CAPÍTULO 2
ESCOLHA DE VESTUÁRIOS E CALÇADOS
No Capítulo 1 quando disse “esclarecer de forma resumida e generalizada dúvidas básicas para quem pretende iniciar nas atividades esportivas em ambiente Outdoor”, entenda que a interpretação do conceito é única mas cada pessoa tem prioridades diferentes na escolha de um equipamento. Em tempos de internet recheada de informações disponíveis, tendemos a nos basear em conceitos teóricos ou referências pessoais de outras pessoas. Mas vale lembrar que temos aspectos físicos diferentes, tolerância aos desconfortos diferentes mas as ofertas de produtos nem sempre são tão abrangentes nas ofertas e nas informações. Então muitas vezes as escolhas se resumem em avaliações e ajustes de prioridades. Portanto, se possível, teste um equipamento para ajustar às suas expectativa antes da sua principal jornada de fato.
Vestuário:
Segunda pele ou Base Layer: Como o próprio nome diz, é a peça de roupa que vai em contato direto com a nossa pele. A necessidade do uso dela se destaca em ambientes frescos para frios, tanto blusa quanto calça. O objetivo dela é o conforto, não só quando estamos parados mas principalmente em atividade e expostos ao clima e suas adversidades. A função do tecido quando em contato com nossa pele é transferir a umidade do suor para a superfície externa do mesmo, tirando aquela sensação de desconforto de peça molhada. Essa transferência ocorre por capilaridade pela característica da trama do tecido que em geral é sintético. Como disse, a principal funcionalidade desta camada é proporcionar o conforto mesmo após uma atividade mais intensa em que transpiramos um volume considerável de suor. Porém é comum a associação da segunda pele como uma peça térmica, mas não necessariamente. “Aquecer” é uma função secundária da segunda pele e que está relacionada ao índice de isolação, numa referência primária, à espessura do tecido. Quanto maior a espessura, mais isola, portanto aquece mais.
Na prática
Peças de Segunda pele: Blusas, Calças, Luvas, Gorros, Balaclavas, Cuecas e Calcinhas.
Camada Térmica (Fleece, Lã, Pluma): São as peças cuja principal função é aquecer. Usadas por cima da segunda pele ou da camiseta/camisa. Podem ser de fleece (sintéticos), misto (lã + sintético) ou em peças recheadas de plumas sintéticas ou naturais, o mais comum é a pluma de ganso. Nesta categoria, podemos dizer que uma peça térmica sobreposta à outra soma eficiência. Em algumas trilhas longas a variação da temperatura mínima poder ser considerável, sendo assim é melhor levar mais de uma peça que ao sobrepô-las atenda à temperatura mínima prevista. Dessa forma, ganha em versatilidade pois usa-se a(s) peça(s) conforme o frio do momento.
Peças da Camada Térmica: Blusas, Jaquetas, Calças, Luvas, Gorros, Balaclavas e Meias
Shell (Anorack, Corta-Vento): É a última peça (externa) que cobre protegendo todo o sistema interior com as suas funcionalidades. A função plena desta peça é a proteção física sendo impermeável e garantir um certo conforto decorrente da umidade que liberamos com a transpiração. Ou seja, impermeável com relação à umidade externa (chuva, garoa e neve) e bloqueia o vento. Mas também pode permitir a transpiração através de uma película tecnológica aplicada na superfície interna do tecido em que permite a passagem de umidade em forma de vapor (de dentro para fora) mas não permite a passagem de gotículas na forma líquida de fora para dentro. A mais conhecida é o GoreTex ou simplesmente representada por GTX nas descrições do produto, que se define como uma membrana aplicada no tecido. Outra característica comum aplicada nos tecidos é o DWR (Durable Water Repellent) que combinada com a função da transpirabilidade do tecido nada mais é que a aplicação de uma espécie de siliconização na superfície externa do tecido. Essa característica evita que a água externa seja absorvida (pelo menos em parte) pelo tecido, evitando da umidade externa encharcar e entupir os poros do Gore Tex ou similar mantendo aberto o fluxo da transpiração.
Peças Shell: Jaquetas, Parkas, Calças, Luvas
Calçados (Tênis, Bota): Não é exagero afirmar que o equipamento mais importante do praticante de Trekking é o calçado. Literalmente nos acompanha por todo o trajeto da jornada e é em quem confiamos toda nossa conexão com o terreno e suas variações. A disponibilidade no mercado de tênis e botas com apelo de aventura é grande, porém devemos nos atentar àqueles que realmente foram desenvolvidos para uso dedicado em ambiente outdoor e alinhado com aquela proposta que te encaixe. Via de regra os calçados para Hiking e Trekking tem o conjunto sola e entressola mais estruturados no que diz respeito à flexibilidade, ou seja, são mais firmes e robustos se comparados à um tênis comum (de uso urbano). Essa “firmeza” é responsável por preservar as articulações e musculatura dos seus pés e dedos, pois absorve as irregularidades e saliências do terreno sem transmiti-las para as plantas dos seus pés. O amortecimento de impactos é suprido pelo sistema de entressolas e pelas palmilhas. Cano baixo, médio ou alto? Em geral, quanto mais alto o cano maior proteção (principalmente nas articulações dos tornozelos) contra impactos laterais e torções. Nos canos mais altos quando ajustados, reduz um pouco da mobilidade dos tornozelos mas aumenta consideravelmente a firmeza contra torções, principalmente quando usadas com mochilas mais pesadas e em terrenos íngremes. Impermeável ou não? Há uma tendência inegável da preferência pelas impermeáveis, porém vale lembrar que embora a maioria também sejam transpiráveis, tem baixa eficiência na ventilação. Ou seja, esquentam consideravelmente sob sol ardente, o que pode incomodar para algumas pessoas. Outra questão é se entrar água pelo cano, situação comum ao atravessar rio ou tomar chuva sem o uso de calça impermeável ou polainas. Vai empapar e criar uma situação desfavorável para os pés pois nenhuma tecnologia impermeável e transpirável tem eficiência em eliminar agua liquida pela membrana. No caso de travessias de rios ou alagados, é melhor usar uma permeável ou drenar toda a água após a travessia. Considerando sempre o uso com meias adequadas, abordadas em outro tópico. A tecnologia mais conhecida é o Gore Tex. Uma membrana aplicada na parte interna do forro do calçado que, como já citado, permite a passagem da umidade em forma de vapor (de dentro para fora) e não permite a passagem da umidade em forma liquida de fora para dentro. Uma vez escolhido o calçado pelas funcionalidades, hora de provar nos pés. Vale lembrar que devem ser usados sempre com meias adequadas, normalmente sintéticas ou de lã merino de espessura média à grossa dependendo da proposta. Considere um tamanho do calçado um pouco maior que o seu número usual. Normalmente um número ou até dois a mais que o seu regular. Em situações de descidas longas e íngremes e com cargas, a tendência dos nossos pés irem para frente e as unhas pressionarem no fundo do calçado, aí o risco de lesão e até de perdê-las.
Meias: É a interface entre seus pés e o calçado, que garantirá a eficiência do mesmo. Podem ser de performance, com funcionalidades desejáveis em situações de uso em trilhas para uma certa proposta. Exemplo: De espessura média, com acolchoamento reforçado na planta, dedos e calcanhar, para serem usadas com botas em travessias longas com cargas. No geral, para performance, evite as que contém algodão em sua composição. Por serem hidrofóbicas, ou seja, absorvem água em suas fibras se tornam abrasivas quando úmidas pelo suor, aumentando as chances de bolhas nas caminhadas mais longas. Também podem ser de funcionalidade específica, como térmica.
Luis Yoiti Hosomomi